sexta-feira, 25 de maio de 2012

Bob Dylan´s Day, no Brasil!


E você, amigo dylanesco, acha que no ultimo dia 24 de maio, data do 71º aniversário de Bob Dylan, só rolou ‘Dylan´s Day’ em Duluth ou Hibbing, cidades do Estado de Minnesota, EUA, onde respectivamente o bardo nasceu e viveu sua infância? Ledo engano! Teve ‘Dylan´s Day’, aqui no Brasil, na longínqua Santa Maria-RS. Isto é, longínqua para mim, que sou do NE, mas pode ser pertinho p/ vocês aí do sul do país...
Pois bem, vamos então ao nosso ‘Dylan´s Day’ tupiniquim. O amigo dylanesco Márcio Grings, um dos bons colaboradores deste Blog Dylan, junto com seus parceiros da Loja Disco Voador, prepararam este dia de homenagens ao ídolo, na Athena Livraria. Eis o relato dele:

Bob’s Day em SM

Para comemorar o aniversário de 71 anos de Bob Dylan, a ideia inicial era fazer de um ambiente tradicionalmente comercial, um espaço mais aconchegante, acolhedor, algo semelhante a uma sala de estar. E foi nesse clima intimista que decorreu o Bob Dylan’s Day, ontem na Athena Livraria (Pasqualine, 34), em Santa Maria. E nesse dia (noite) dedicado somente a Dylan, eu (voz e harmônica) e Vitor Cesar (violão e voz), começamos a noite com “Mississipi”, um dos temas de “Love & Theft” (2001).
 “Only one thing / I did wrong / stayed a Mississipi a Day to long”

O evento programado para pouco mais de 1 hora, chegou a quase 3 horas de duração. Através de meu acervo pessoal de LPs, e turbinados pela vitrola Crosley, fomos repassando álbum a álbum, a vida e a obra do Bardo americano, falando de vários aspectos de sua trajetória artística (letras, influências, canções, livros, filmes, etc.), entrecortando o bate-papo com versões acústicas de algumas canções. Além de "Mississipi", Vítor e eu a(ssa)ssinamos – “Tonight I'll be staying here with you”, de “Nashville Skyline” (1969); “Forever Young”, de “Planet Waves” (1974); “Oh Sister”, de “Desire” (1976); “Most of the Time”, de “Oh Mercy (1989) e “Things Have Changed” (2000), canção que deu o Oscar de Melhor Canção Original para o cantor norte-americano. Foi bacana ter contado com a ajuda do amigo Odemir “Tex” Jr, escritor santa-mariense que leu uma versão em português da letra de “Don’t Think Twice, It’s All Right”, de “Freewheelin’” (1962), e entre outras coisas, também falou da influência que a literatura incidiu sobre a obra do astro.
 O próximo encontro da trupe, já está marcado para 16 de agosto de 2012, outra quinta-feira, desta feita uma noite dedicada a Elvis Presley.

O texto é de Márcio Grings e as fotos do evento são de Fabiano Dallmeyer.

Visita superficial aos defeitos do mestre Dylan!

Aqui, mais uma bem-vinda colaboração de um grande amigo dylanesco, J. de Mendonça Neto, o popular e estimado 'Visconde de SábioGoza'. Boa leitura!


Visita superficial aos defeitos do mestre Dylan






O Dylan faz 71anos, 50 de carreira e eu acompanhei de perto, lado a lado, uns 30 anos dessa trajetória. Teria acompanhado mais, mas não tinha idade para isso. Dylan me faz companhia esse tempo todo e, decidido desde há tempos a não ter senhores nem reis, me esforço para não cair na vala comum de súdito. Tento, mas nem sempre consigo.

Por conta disso sempre que possível, busco enfoques ou detalhes desse mestre que possam me incomodar e dar conta que trata-se apenas de um rapaz americano com muito dinheiro no bolso e não um deus, mesmo porque tanto quanto consigo, sou agnóstico. Vendo para crer.

Nessa direção, vira e mexe anoto na memória, essa traidora, pequenos, médios e grandes deslizes do mestre _ olha eu de novo, reverenciando para me certificar de que é um ser humano, não igual a mim, com um forte elenco de defeitos, mas, ele também, passível de pecados.
E sem a profundidade dos vários enciclopedistas dylanescos que conheço e com um texto aberto a revisão, aprofundamento e até negação, busco elencar da velha traidora algumas passagens que envolveram o homem e o artista nesta longa e profícua trajetória.

Mas, até antes dessas observações bastante superficiais, gostaria de considerar que foi exatamente essa resistência a seguir reis e senhores que me colocaram em reserva quando da recente passagem dele pela América do Sul, que incluiu apresentações em quatro capitais e o distrito federal no Brasil.

Lembro de ter conversado com meus botões: Já vi o Dylan algumas vezes. Vê-lo novamente não é pagar pau para um sujeito, quase único, é claro, mas apenas um artista com o qual tenho afinidades? Resolvido, não sei se dá melhor maneira. Dei ré, não fui e não me incomodei.

Não me incomodei porque de perto, mas não presente, acompanhei como foi essa passagem e desde elas já pontuei alguns incômodos que me fortaleceram na perspectiva de reafirmar agora: nem rei, nem senhores e nem deuses, acrescentei. Ele continua com aqueles terninhos de circo e aquele indefectível chapéu. Somos minoria, os incomodados com a vestimenta do cara, mas já se trata de um defeitinho.
Para mim, sob minha responsabilidade e risco, Dylan deu umas mancadas, mas não exijam desse escriba contextualização completa do que vou elencar. A velha traidora não dá conta disso e o Dylan não é tão importante assim que mereça da minha parte grandes prospecções.

Aos pontos e nem são muitos. Dylan não se comportou bem durante a sua transição de abandono da cena militante do folk à época. Tenho pra mim que o seu salto em direção a outras cenas e amplidão de possibilidades, não foi feita de forma elegante e grata a cena folk que tão bem o acolheu, deu força e prestigio inicial.
Aos saltos dos fatos, também considero que a maneira com que ele tratou a relação com a Joan Baez, que tinha outras expectativas quanto ao então jovem Dylan, não foi a de um cara respeitoso e sim de quase um oportunista sem escrúpulos.

Ainda saltando. Quando virava uma celebridade anfetaminada, em sua passagem pela Inglaterra, o desdém continuou em relação à parceira que tanto o apoiou. As diversas entrevistas das quais ele participava pouco tinha de novo com relação ao comportamento eminentemente comum da época, entre as estrelas da cena rock. A sua irreverência, em determinadas ocasiões, visavam alimentar o astro, não os esforços da contracultura. Considero, e esse é um julgamento de juízo, que era um momento de responsabilidades comunitárias da qual ele se furtou.
Saltando mais. A forma com que tratou um esforçado Donavan _ que o apreciava sem moderação, também não foi a de alguém que se garantisse em sua complexidade e capacidade. O documentário ‘Dont Look Back’ dá alguns outros sinais claros que se Dylan estava num momento muito inspirado de sua carreira em transição para a cena do rock, pessoalmente algumas posturas beiravam a infantilidade e cafajestice, quando numa relação conflituosa entre as mulheres do seu arco.

Outra passagem que a velha traidora trás superficialmente diz respeito a sua participação num Live Aid qualquer, onde não tenho certeza que sua alusão à situação dos fazendeiros americanos, sugerindo uma ajuda advinda da ação binacional, EUA e Inglaterra, fosse a mais pertinente. Claro que Dylan não falou no vazio e apenas baseado num “baseado”. Tinha lastro. A situação dos fazendeiros mereceu depois shows especiais com aquela finalidade.

Aos saltos ainda. Dylan, conforme narra Sounes, na biografia que fez do mestre e ele próprio no primeiro volume de Crônicas, desfila alguns exemplos de comportamento duvidoso. Roubo de discos, suave, é claro; roubo de arranjos como fez com Dave Van Ronk em seu primeiro álbum e a megalomania afrescalhada quando gastou fortunas para construir uma mansão onde moraria apenas o pequeno Bob e sua família que nem tão grande era.
Acho que fico, por enquanto, por aqui. Outros exemplos poderiam brotar da velha traidora. Haverá controvérsias, explicações e algumas fazem parte até mesmo das minhas reflexões sobre o ocorrido, mas, como alertei os eventuais leitores se trata de um esforço pessoal de não ver Dylan como rei, senhor ou deus. 

O infortúnio de um texto destes seria a infelicidade de ele chegar aos olhos do mestre. Ele leria então essas mal construídas linhas e não as dezenas de textos que escrevi sobre ele meio indefeso com relação a minha premissa de não ter reis, senhores ou deuses.

Dylan é Dylan. Meu parceiro de longa data e o maior compositor de todos os tempos. E lá sigo eu tentando não reverenciar.

Os 71 anos de Bob Dylan

Na última quinta-feira, 24 de maio, o velho bardo comemorou seu 71º aniversário e o Blog Dylan não poderia deixar esta data passar em branco. Deste modo, o jornalista e amigo dylanesco, Pedro Emmanuel Goes, nos envia este belo texto, no qual presta sua homenagem ao ídolo:

Os 71 anos de Bob Dylan

Hoje (24 de maio de 2012), um dos baluartes da cultura mundial faz aniversário. São 71 anos de vida, 50 anos de carreira, pelo menos seis personalidades distintas, e muita história pra contar. Ao longo desses 71 anos, Robert Allen Zimmerman, ou apenas Bob Dylan, para os incautos, gravou 34 álbuns de estúdio, mais dezenas de compilações, lives e bootlegs. Muitas dessas gravações são registros antológicos que sacudiram a música popular de diversas maneiras.

Em sua última passagem por terras brasileiras, Dylan realizou cinco shows, em quatro cidades diferentes. O músico foi recebido com fervor pelo público em todas as datas; estas, bastante concorridas, já que tiveram vários setores esgotados logo no início das vendas. O que foi apresentado nestes cinco shows foi o esperado pelo público pagante, ou pelo menos pelos verdadeiros fãs do bardo.  

A frieza e a distância, já habituais do músico, foram os principais alvos das críticas dos desavisados, que chegaram a pagar valores absurdos na esperança de ouvir uma compilação dos maiores sucessos dylanescos, quebrando a cara ao se deparar com a ausência de alguns clássicos óbvios como Lay, Lady Lay; Maggie’s Farm e Hurricane.
 Mas como todo artista vivido, que não tem mais nada a perder e se dá o direito de poder fazer o que quiser a essa altura da vida, Bob presenteou os fãs com um repertório que abrangeu todas as ótimas fases, distintas, pelas quais o ‘impersonalizável’ músico passou. Certamente, ver canções como The Levee’s Gonna Brake e Thunder on The Mountain sendo tocada pelo mestre, ao vivo, fez os olhos de seus seguidores brilharem de emoção. 

Bob Dylan compôs uma obra cuja importância nenhum outro artista jamais se atreveria a tentar alcançar. Fez em uma década o que muitos levaram uma vida tentando fazer, e não conseguiram. Dylan é responsável por um dos legados mais importantes da música moderna, e o ver chegar aos 71 anos de idade trabalhando, compondo, e mostrando para as novas gerações toda a sua genialidade, isso, por si só, já é motivo de celebração.